“Viver é um verbo no Sul” - Coletiva das galerias ArteFASAM e MAMUTE

07.06 - 12.07.2025

ArteFASAM São Paulo

Viver é um verbo no Sul

curadoria Giulia França

Fragmentos do imaginário coletam momentos-lembranças na costura infindável de identidades. Uma brisa na tarde ensolarada de calor conhecido, um cheiro de café amigo que marca as repetidas manhãs, o som da música a tocar de fundo e as vozes sobrepostas na reunião familiar. É num sorriso de alma, daqueles que somente o jeito dos olhos e o movimento da língua são capazes de dizer: existe um pedaço de mim em você.

Viver é um verbo no sul poderia prolongar-se sem rumo nas citações de elementos simbólicos que constituem, como tijolos, a edificação sobre o que é ser latino-americano. Nem sempre contentes, nem sempre tragáveis. Não se pretende buscar aqui a definição resoluta sobre qual parte de nós habita no outro, qual exatamente é a conjunção de fatores que torna viável tal identificação. O caminho seria impreciso. Tampouco seria possível juntar um conjunto capaz de abarcar em unanimidade todas as variantes de identidade.

Então, sobre essa via flutuante caminhamos na busca de imaginar novas subjetividades. O verbo, como sugere o título, é um jogo metalinguístico. É como se uma vez alheio ao seu próprio valor gramatical, “verbo” é ação consciente de tecer a vida com experiências, uma postura proativa para o diálogo com o entorno. No “Sul” andamos em um espaço-tempo, nos termos inspirados por Joaquín Torres-García em “Nuestro Norte es el Sur”. Para além de referência geográfica, o sul (latino americano) é nosso eixo de enunciação, nossa bússola e substrato de criação.

A curadoria se organiza em torno de três núcleos de tensão que ora contrastam, ora entrelaçam distintos fragmentos-identidade. “Afetos de dentro”, “No limiar do urbano” e “Ao entardecer: um olhar silencioso” são os títulos que nomeiam as travessias da mostra, onde cada uma direciona para uma dimensão sensível da existência no sul. Respectivamente, os afetos aqui são recortes oníricos, como escavados do coração. Há nessas obras uma qualidade daquilo que, mesmo tão individual, ressoa na alma alheia. Talvez porque dentro das referências que compõem nossa cosmogonia, as imagens acionem um sentimento de déjà-vu.

Néstor Garcia Canclini uma vez nos disse sobre a qualidade estética do que se encontra em estado de iminência, isto é, vive na beira do “quase”, se insinua na frente de nossos olhos a ponto de quase se anunciar, mas nesse exato instante escapa pelas pontas dos dedos, liquefeita. A tentativa de definir identidades latinas talvez habite esse estado de “quase” em que as definições se quebram no momento em que se formulam. Por vezes “ser latino” é uma locução verbal de “estar sendo latino.

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