SP-Arte 2023
29.03.2023 - 02.04.2023 - Pavilhão da Bienal, São Paulo
Amílcar de Castro, Ana Hortides, Ana Sant’anna, Antonio Bandeira, Arthur Pereira, Carolina Colichio, Gabriela Sacchetto, Julia da Mota, Julia Pereira, Lais Myrrha, Lilian Camelli, Milton Dacosta, Mari Ra, Ursula Tautz
O projeto do stand partiu do pensamento sobre as “dobras da realidade”; artistas que possuem um dado de realidade que chamamos concreta, seja no material, seja na imagem, mas também de suspensão da mesma realidade, ou de diluição da existência material. Suas obras eventualmente corroboram para a possibilidade de sonhar, de rememorar, ou de ficcionalizar a visualidade. É o encontro da água mole com a pedra dura, ou da invenção com o estatuto da verdade. Abstrato e figurativo já não dão conta de classificar o contemporâneo, que inventa trazendo fragmentos do cotidiano. É algo entre a gravidade que nos prende ao chão e a distância que nos faz voar no céu.
Em face de artistas concretos, nos deparamos com a dobra literal no espaço-tempo de Amílcar de Castro, e do retorno à figuração com a magia do anjo de Milton Dacosta, enlevada pela linguagem geométrica que marcou a nossa história da arte. Antonio Bandeira rebate esta concretude com o modernismo descentralizado, mais lírico, embora ritmado. Já no terreno da figuração sintética, econômica, Arthur Pereira e Gabriela Sacchetto se aproximam não só no material da madeira, mas nas frestas: ele na margem do sistema artístico, e ela na matéria-prima feita de restos de madeira de demolição. Ursula Tautz incorpora questões do tempo e da materialidade da vida, através do carbono, elemento químico mais abundante da natureza; Ana Sant’Anna produz desenhos leves e etéreos no branco sobre branco, em linhas que parecem passear de um papel a outro; Julia Pereira, por outro lado, traz a força e o peso das pinceladas e da materialidade da pintura; Julia da Mota traz a paisagem em tons azuis e violáceos, cores que vibram numa velocidade muito lenta e, assim, traduzem a sensação do infinito dos mares e do céu; já o mergulho de Mari Ra se dá pela pesquisa cromática e suas quebras; a paisagem marítima também aparece em Carolina Colichio, encrustada na dureza do concreto, evocando o encontro do delicado e da força, mas lembrando que o concreto foi um dia líquido e, portanto, plástico; concreto este que aparece em destroços na paisagem de Lais Myrrha como memória e história; e em Ana Hortides, como lembrança das construções suburbanas, com caquinhos de cerâmica e cortinas bordadas; já na tela de Lilian Camelli, essas cortinas ventam como um sonho estranho, mas familiar.
Bruna Costa